domingo, 16 de dezembro de 2012

na mão

Oi. Eu disse.
Oi. Ela respondeu.
fizemos silêncio.

é bom fazer silêncio junto com você. Eu disse.
Ela sorriu.
Eu sorri.
                                                                          Continuamos em  silêncio.

Eu peguei na mão dela.

Você gosta de entrelaçar os dedos das mãos? eu perguntei.

Eu gosto. Ela disse.

Eu gosto de medir a palma da mão. Ela disse.

Eu gosto de colocar a mão pra fora da janela do carro na estrada. Eu disse.

Eu gosto de olhar a luz do sol atravessar os dedos bem abertos da mão. Ela disse.

Eu gosto de passar um pouco de cola na mão, esperar secar e depois ir tirando devagarinho. Eu disse.

Eu gosto de passar a mão sobre texturas diferentes. Ela disse.

Eu gosto da sua mão. Ela disse.

Eu sorri e entrelacei os dedos com ela.

Fizemos silêncio.


Você quer um sorvete?  Eu perguntei.
Ela sorriu.


                                                       





sábado, 27 de outubro de 2012

Não pensa que é pra você

Mas eu te amo

um tanto, que é maior que a árvore mais antiga e de um jeito mais bonito que aquela canção do Roberto.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

memória


Outro dia eu tomei coragem e abri algumas gavetas e caixas antigas.
Eu subi numa cadeira e afastei as outras coisas da frente para travar contato com aquele material  há muito tempo esquecido. Peguei de lá uma caixa com uma estampa floral, provavelmente herdada de minha mãe e ajeitei sobre a cama.

Durante alguns instantes eu não me senti mais corajoso, e sim frágil, como se aquilo tudo pudesse transformar o meu momento presente.

Então eu observei a caixa, passei a mão de leve sobre o papelão, e percebi pequenas dobras nos cantos da caixa. As flores em tom bege, envelheciam ainda mais minhas lembranças encaixotadas.

Eu já não precisava mais abri-la, porque as histórias começaram a vir em minha mente através do tato. Minhas mãos agora me contavam histórias, histórias muito bonitas, engraçadas e muitas tristes também, tudo aparecia na pele.

Eu decidi levantar a tampa e me deparei com um antigo envelope, branco, escrito meu nome, com uma letra que já foi minha, bem na frente. A tinta preta da caneta não dava bola ao tempo e continuava lá, firme, me convidando, ou melhor, me obrigando a abrir aquele envelope.

Eu o tomei nas mãos e abri.

Entre recados de amigos adolescentes, embalagens de produtos simples e pequenos apetrechos como uma pedra sorrindo, um jornal com a manchete do meu time de coração e um pequeno carrinho vermelho de brinquedo, eu encontrei uma foto da pessoa que eu esqueci ter amado.
Daquele que não me fugia da cabeça, mas que agora eu lutava para lembrar seu nome.

Uma garota jovem de aproximadamente 12 anos, estava em minha frente, bastante amassada, pois, apesar da mente não se lembrar de pouco, o coração e minhas mãos se lembravam de muito.
Muitas foram as noites em que dormi abraçado aquela foto, trazendo aquele sorriso de encontro ao peito.

Me lembrei de ainda menino, tentar esconder de minha irmã aquela poesia fotográfica, e ela sem o menor tino pra irmã mais velha me expor pra toda a família no almoço de domingo.
Ainda assim , eu recuperei a foto, e fazia disso meu amuleto, e passei a colocá-la na gaveta de camisetas, embaixo de tudo, para que todo dia de manhã antes de vestir-me, eu pudesse fazer minha adoração naquele santuário improvisado.

Acho que a burra da maturidade começou a chegar junto com a pressa e eu parei de venerar aquela foto, comecei a perde-la.

Eu não me lembro do dia exato em que aquela foto já não me pertencia mais.

 Em que momento as lembranças deixaram de fazer parte?

Tudo se transformou daquele dia em diante. Daquele dia em que não sei a data, tudo foi diferente, eu abri lugar para novas fotos, novas adorações, mas essa foto, a primeira ainda restava lá.

Eu, quase me sentindo envergonhado, talvez pela última vez, fechei meus olhos e apertei aquele sorriso outra vez contra meu peito.  A felicidade foi imensa.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Carta

Jéssica,
você ainda não sabe muito bem quem sou eu... Na verdade, você nem sabe que eu existo, o que por um lado é bom, porque eu posso mostrar o melhor de mim pra você, eu posso me conhecer melhor e ficar guardando um monte de coisas legais pra quando você chegar, por outro é ruim, porque é uma espera longa... sabe aqueles momentos que você fica andando de um lado pro outro e não sabe o que fazer com as mãos? É isso, só que por dentro!

Desde que fiquei sabendo que você viria, eu tenho pensado muito em você, e pensado no que vamos fazer juntos, onde posso te levar, o que posso te apresentar, e mesmo você tendo avisado com quase 9 meses de antecedência que viria, o tempo parece curto pra arrumar tudo, talvez porque a busca seja pela perfeição... Mas eu aposto uma pizza com você que você nem vai ligar pra isso tudo, a gente é que é besta... Adultos são assim, então aprenda logo, ou melhor nos ensine logo!
É claro que você vai gostar de tudo o que te espera, (aposto outra pizza com isso), porque tem uma mulher, que eu chamo de Nath, Nathalia, Na, mas você vai chamar de outra coisa... ela é bem da caprichosa sabe, cuida de tudo... e junto com ela tem o Gu, que eu chamo de vários apelidos e nome diferentes também, mas que provavelmente não servirão pra você...esse também tem um coração enorme e juntos eles vão cuidar tanto de você, que será impossível não gostar!

Você vai entender todas essas coisas muito antes de aprender a ler todas essas palavras, mas escrevendo a gente tenta registrar a emoção do momento, escolhendo as melhores palavras e tentando com isso congelar as sensações.

Hoje tive uma sensação muito boa, descobri que eu vou ser seu padrinho, é isso mesmo, PA-DRI-NHO.

Pra você entender melhor:

Padrinho é o cara legal, aquele que leva a gente pra lugares divertidos, que conta histórias legais, que ensina um monte de coisa pra gente e ainda paga um sorvete de duas bolas com cobertura!

Pois é, eu sou esse cara agora!

Até já!
Um beijo.
V.

sábado, 4 de agosto de 2012

O abraço do homem entregue

Um homem que beirava os 30 anos, o típico homem COMUM, se é que se pode definir alguém assim... Mas falo um pouco da forma, nem muito magro, nem gordo, com a barba por fazer, calça jeans surrada, a velha camiseta branca com a gola já não tão em forma... Ele sai de seu apartamento no centro da cidade a procura da vida.
A vida que ele queimou, que ele não viu acontecer. Não por ser obrigado a nada, ou estar preocupado demais com obrigações, simplesmente por não ter feito nada.

Na noite que antecede a saída do homem do apartamento, ele sonha com a possibilidade de encontrar alguém, seja esse alguém um amigo, uma namorada, uma futura esposa ou até um filho perdido por aí, que agora irá transformá-lo em outro.
Esse alguém não diz palavras, ou frases ou qualquer comunicação verbal, eles se entendem em outro nível, eles se conectam pelo olhar e passam a saber tudo um do outro, ao passo que seus movimentos passam a se parecer e o homem já não se sente mais só, ele agora é multiplicado pela companhia de um outro.

Esse homem multiplicado ganha uma nova visão, uma nova lei. Ele não obedece mais aquela velha rotina que esgotava seus músculos de tanto repetir movimentos sem a possibilidade de evoluir.
Ele agora sente os aromas da cidade em que vive, ele percebe em seu corpo uma energia jamais percebida antes que o permite caminhar pelas ruas com a cabeça erguida.
Esse novo homem agora ganha forças para se interessar por alguém, ele agora ama pessoas pelas ruas da cidade, ele ama pessoas que entregam pizza, ele ama pessoas que encontra no elevador, ele ama pessoas que varrem as ruas e ama pessoas que seguram portas de elevadores quando o avistam chegando.
Ele ama loiras altas com silicone nos seios e a bunda dura de tanto frequentar a academia, ele ama homens de terno preto falando ao celular enquanto caminham apressados, ele ama crianças com o nariz escorrendo que seguram a barra da saia da mãe implorando por colo.

Ele com esse amor maior que seu corpo sai pela rua e passa a abraçar pessoas, a todas elas, ele abraça sem interesse sexual ou de qualquer outra espécie, ele abraça, ele tem que abraçar para expressar esse amor...

Ele então abraça um homem que se prepara para o salto definitivo, o salto a busca da morte, no metrô, no horário de pico, no caos da cidade, ele abraça o homem.
O homem retribui o abraço sem se preocupar de onde vem aquilo, ele abraça de volta e chora e amolece o corpo. Ninguém repara nos dois.
O dois homens ali, abraçados transformam suas vidas.
Um diz obrigado, o outro esboça um sorriso ainda com lágrimas nos olhos.
 Caminham em direções opostas.
Ele acorda.


domingo, 17 de junho de 2012

Espelho


Uma canção muito especial que me toca muito por toda a beleza da homenagem...

terça-feira, 5 de junho de 2012

De quem sou eu

Lembrando de mim eu percebi que talvez eu seja especial.
Que talvez eu valha a pena.
Eu tinha esquecido de mim, de quem eu era, do meu sabor, do meu desejo, dos meus anseios.

Nessa lembrança eu resgatei lá de dentro um garotinho desse tamaniquinho de cabelo encaracolado, que sonhava com tudo e que podia tudo, porque não sabia de nada, ou talvez de tudo.
Eu lembrei que eu posso ser o que eu quiser, fazer o que eu quiser e morar no mundo que eu quiser.

Com um sorriso confiante de criança, que as vezes ainda surge no meu rosto, eu sinto que isso está em mim, e usando as palavras de um sábio malandro da música brasileira como inspiração eu canto: " eu sou assim, quem quiser gostar de mim.... eu sou assim"

segunda-feira, 4 de junho de 2012

de manhã

Acordei e já não era tão cedo, com a claridade que entrava pela janela diretamente no meu rosto. Virei pro lado e estava sozinho na cama enorme banhada com o edredom vermelho. Meu cabelo amassado e meus olhos entre abertos pareciam não entender como podia estar sozinho.
Esperei um pouco fingindo estar dormindo torcendo pra que ela voltasse do banheiro. Nada.
Fiquei ainda esperando e inventando um café da manhã ou alguma desculpa pra estar sozinho.
Mas nada aconteceu.
Comecei a me sufocar na cama.
Então, me sentindo bem estranho, fui até o banheiro e quando senti o piso frio com meus pés ainda quentes, me deparei com as marcas de batom escritas por ela em toda a extensão do meu banheiro.
Ela não teve dó.
Disse tudo o que queria, sem medo de acabar de vez comigo.
As letras começavam no espelho e atravessavam as paredes e chão e teto e aquele ódio todo colocado ali e me obrigando a ler palavra por palavra, letra por letra, me deixava claro que ela tinha me deixado.
Que agora eu já não estava sozinho, eu estava abandonado. É muito pior estar abandonado.

Sentei no vaso e fiquei estático, paralisado, derramando lágrimas e olhando pro azulejo azul claro todo rabiscado e bem na minha frente eu lia com clareza alguns daqueles golpes verbais.
"... e do seu lado eu não consigo mais sorrir, eu te odeio..."
" Você nunca me fez bem."

Liguei o chuveiro e fiquei sentando, pelado, misturando a água quente com minhas lágrimas frias até a fonte secar.

sábado, 17 de março de 2012

Quarta Feira

Uma vez eu vi num filme uma mulher dizendo que queria receber flores do seu namorado numa quarta feira só por ser quarta feira, que ele não precisasse de motivos especiais e datas comemorativas para surpreendê-la.
Então me dei conta de que a verdadeira surpresa mora em pequenas atitudes, e momentos inesperados e ações do coração.
É uma questão de ouvir.
Escutar é uma e talvez a mais importante ação do ser humano.

Quero abraços e beijos como se fossem flores só porque é quarta feira.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

desastre


Eu escrevo isso pra você que chora sentada na porta de casa, segurando o celular e não acreditando no que ouviu.

Você que levantou pensando no encontro que teria a noite e na roupa que iria vestir.

Você que ensaiou as palavras pra não dizer nenhuma bobagem.

Eu escrevo tudo isso pra você que economizou as últimas gotas do seu melhor perfume para o dia de hoje.

Pra você que separou os sapatos na semana passada.

Pra você que compôs mentalmente uma trilha sonora para o grande momento.

Você que escondeu as revistas dos cantores sertanejos contando que ele viesse a sua casa.

Você que sentiu em um dia pelo menos, a tal da felicidade.

Você que enxergou um Coelho na Lua.

Escrevo pra você que soluça e derrama lágrimas no vestido de flor.

Pra você que tem a maquiagem borrada e não tem coragem de dizer isso a ninguém.

Você que não tem força para se colocar em pé.

Escrevo isso pra você, que ainda ama, mas não é mais correspondida.