sábado, 22 de outubro de 2011

A Chapeuzinho Vermelho

Outro dia uma sensação muito viva tomou conta de mim, uma recordação.
Mas não estou falando de uma simples e falha lembrança, dessas que passam, eu estou falando dessas que ficam.

Nesse caso foi diferente, eu senti exatamente o que sentia quando acontecia, eu vivenciei novamente seu colo, mãe.
Eu estava lá, ou era como se estivesse lá deitado na cama do beliche de baixo do lado esquerdo do primeiro quarto do sítio.
Você, minha mãe, depois de me acompanhar na escovação dos dentes ia até lá comigo e me contava histórias diversas, e sabia como fazer, as pausas, os silêncios, você era todos aqueles personagens e eu nem sabia. Você me envolvia naquelas palavras de livros infantis e eu embarcava deitado naquela aventura até dormir sobre os lençóis brancos com letras grandes e coloridas estampadas, compondo perfeitamente a paisagem.

Tudo tinha um clima, um cheiro, uma vontade, uma expressão em si mesmo e reverberam em mim.

Daí eu cresci e tento me transformar num grande contador de histórias, tento dar vida a muitos personagens e para isso empresto meu corpo e minha alma a esse ofício, tudo isso para um dia provocar em alguém, ou em muitos desses "alguéns" aquela mesma sensação do beliche de anos atrás.

Aquelas histórias todas fora eternizadas em mim, naquelas madeiras envernizadas da cama, no grande armário de tom claro, e nas janelas azuis.

Eu preciso encontrar o espaço onde vou criar raízes.

Obrigado mãe, por tanta vida.

domingo, 2 de outubro de 2011

Sabendo da chuva na noite escura me ponho a caminhar na avenida mais famosa da cidade e cruzo olhares com desconhecidos e imagino as milhares de histórias que podem ser contadas por eles, que eu nunca vou conseguir ouvir, diariamente eu vejo pessoas e faço um julgamento mental que não dura mais de 8 segundos, mas hoje foi diferente.

Eu escrevia na mente histórias para esses personagens anônimos, enquanto eles talvez nem reparassem minha presença. Eu criei histórias de amor para muitos deles, criei assassinatos, vidas sem graça, traições, brigas... Eu inventava seus dramas e ia lapidando suas vidas apenas pelo rosto, ia determinando quem eram através do "meu" passado imaginário.

E nessa brincadeira de criar histórias para os outros me percebi criando a minha própria, e eu não estava apagando o que já havia sido escrito, na hora de fazer a minha, e virei a página e comecei um novo capítulo. Ainda não o batizei... e foi engraçado como na minha cabeça essa minha trajetória pareceu bastante justa, possível e muito feliz. Eu farei coisas que poucas pessoas fazem, eu irei a lugares que até hoje eu jamais acreditei de verdade que iria, eu conhecerei pessoas ótimas, trabalharei com aquelas pessoas que me estimulam, eu serei escutado por muita gente, eu escutarei muita gente, eu escreverei coisas das mais interessantes... E isso tudo me fez pensar que agora enquanto digito essas palavras eu estou firmando a minha trajetória e que só depende de mim fazer todas essas coisas... eu acredito...