Outro dia uma sensação muito viva tomou conta de mim, uma recordação.
Mas não estou falando de uma simples e falha lembrança, dessas que passam, eu estou falando dessas que ficam.
Nesse caso foi diferente, eu senti exatamente o que sentia quando acontecia, eu vivenciei novamente seu colo, mãe.
Eu estava lá, ou era como se estivesse lá deitado na cama do beliche de baixo do lado esquerdo do primeiro quarto do sítio.
Você, minha mãe, depois de me acompanhar na escovação dos dentes ia até lá comigo e me contava histórias diversas, e sabia como fazer, as pausas, os silêncios, você era todos aqueles personagens e eu nem sabia. Você me envolvia naquelas palavras de livros infantis e eu embarcava deitado naquela aventura até dormir sobre os lençóis brancos com letras grandes e coloridas estampadas, compondo perfeitamente a paisagem.
Tudo tinha um clima, um cheiro, uma vontade, uma expressão em si mesmo e reverberam em mim.
Daí eu cresci e tento me transformar num grande contador de histórias, tento dar vida a muitos personagens e para isso empresto meu corpo e minha alma a esse ofício, tudo isso para um dia provocar em alguém, ou em muitos desses "alguéns" aquela mesma sensação do beliche de anos atrás.
Aquelas histórias todas fora eternizadas em mim, naquelas madeiras envernizadas da cama, no grande armário de tom claro, e nas janelas azuis.
Eu preciso encontrar o espaço onde vou criar raízes.
Obrigado mãe, por tanta vida.
sábado, 22 de outubro de 2011
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