quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Carta

Jéssica,
você ainda não sabe muito bem quem sou eu... Na verdade, você nem sabe que eu existo, o que por um lado é bom, porque eu posso mostrar o melhor de mim pra você, eu posso me conhecer melhor e ficar guardando um monte de coisas legais pra quando você chegar, por outro é ruim, porque é uma espera longa... sabe aqueles momentos que você fica andando de um lado pro outro e não sabe o que fazer com as mãos? É isso, só que por dentro!

Desde que fiquei sabendo que você viria, eu tenho pensado muito em você, e pensado no que vamos fazer juntos, onde posso te levar, o que posso te apresentar, e mesmo você tendo avisado com quase 9 meses de antecedência que viria, o tempo parece curto pra arrumar tudo, talvez porque a busca seja pela perfeição... Mas eu aposto uma pizza com você que você nem vai ligar pra isso tudo, a gente é que é besta... Adultos são assim, então aprenda logo, ou melhor nos ensine logo!
É claro que você vai gostar de tudo o que te espera, (aposto outra pizza com isso), porque tem uma mulher, que eu chamo de Nath, Nathalia, Na, mas você vai chamar de outra coisa... ela é bem da caprichosa sabe, cuida de tudo... e junto com ela tem o Gu, que eu chamo de vários apelidos e nome diferentes também, mas que provavelmente não servirão pra você...esse também tem um coração enorme e juntos eles vão cuidar tanto de você, que será impossível não gostar!

Você vai entender todas essas coisas muito antes de aprender a ler todas essas palavras, mas escrevendo a gente tenta registrar a emoção do momento, escolhendo as melhores palavras e tentando com isso congelar as sensações.

Hoje tive uma sensação muito boa, descobri que eu vou ser seu padrinho, é isso mesmo, PA-DRI-NHO.

Pra você entender melhor:

Padrinho é o cara legal, aquele que leva a gente pra lugares divertidos, que conta histórias legais, que ensina um monte de coisa pra gente e ainda paga um sorvete de duas bolas com cobertura!

Pois é, eu sou esse cara agora!

Até já!
Um beijo.
V.

sábado, 4 de agosto de 2012

O abraço do homem entregue

Um homem que beirava os 30 anos, o típico homem COMUM, se é que se pode definir alguém assim... Mas falo um pouco da forma, nem muito magro, nem gordo, com a barba por fazer, calça jeans surrada, a velha camiseta branca com a gola já não tão em forma... Ele sai de seu apartamento no centro da cidade a procura da vida.
A vida que ele queimou, que ele não viu acontecer. Não por ser obrigado a nada, ou estar preocupado demais com obrigações, simplesmente por não ter feito nada.

Na noite que antecede a saída do homem do apartamento, ele sonha com a possibilidade de encontrar alguém, seja esse alguém um amigo, uma namorada, uma futura esposa ou até um filho perdido por aí, que agora irá transformá-lo em outro.
Esse alguém não diz palavras, ou frases ou qualquer comunicação verbal, eles se entendem em outro nível, eles se conectam pelo olhar e passam a saber tudo um do outro, ao passo que seus movimentos passam a se parecer e o homem já não se sente mais só, ele agora é multiplicado pela companhia de um outro.

Esse homem multiplicado ganha uma nova visão, uma nova lei. Ele não obedece mais aquela velha rotina que esgotava seus músculos de tanto repetir movimentos sem a possibilidade de evoluir.
Ele agora sente os aromas da cidade em que vive, ele percebe em seu corpo uma energia jamais percebida antes que o permite caminhar pelas ruas com a cabeça erguida.
Esse novo homem agora ganha forças para se interessar por alguém, ele agora ama pessoas pelas ruas da cidade, ele ama pessoas que entregam pizza, ele ama pessoas que encontra no elevador, ele ama pessoas que varrem as ruas e ama pessoas que seguram portas de elevadores quando o avistam chegando.
Ele ama loiras altas com silicone nos seios e a bunda dura de tanto frequentar a academia, ele ama homens de terno preto falando ao celular enquanto caminham apressados, ele ama crianças com o nariz escorrendo que seguram a barra da saia da mãe implorando por colo.

Ele com esse amor maior que seu corpo sai pela rua e passa a abraçar pessoas, a todas elas, ele abraça sem interesse sexual ou de qualquer outra espécie, ele abraça, ele tem que abraçar para expressar esse amor...

Ele então abraça um homem que se prepara para o salto definitivo, o salto a busca da morte, no metrô, no horário de pico, no caos da cidade, ele abraça o homem.
O homem retribui o abraço sem se preocupar de onde vem aquilo, ele abraça de volta e chora e amolece o corpo. Ninguém repara nos dois.
O dois homens ali, abraçados transformam suas vidas.
Um diz obrigado, o outro esboça um sorriso ainda com lágrimas nos olhos.
 Caminham em direções opostas.
Ele acorda.