segunda-feira, 4 de junho de 2012

de manhã

Acordei e já não era tão cedo, com a claridade que entrava pela janela diretamente no meu rosto. Virei pro lado e estava sozinho na cama enorme banhada com o edredom vermelho. Meu cabelo amassado e meus olhos entre abertos pareciam não entender como podia estar sozinho.
Esperei um pouco fingindo estar dormindo torcendo pra que ela voltasse do banheiro. Nada.
Fiquei ainda esperando e inventando um café da manhã ou alguma desculpa pra estar sozinho.
Mas nada aconteceu.
Comecei a me sufocar na cama.
Então, me sentindo bem estranho, fui até o banheiro e quando senti o piso frio com meus pés ainda quentes, me deparei com as marcas de batom escritas por ela em toda a extensão do meu banheiro.
Ela não teve dó.
Disse tudo o que queria, sem medo de acabar de vez comigo.
As letras começavam no espelho e atravessavam as paredes e chão e teto e aquele ódio todo colocado ali e me obrigando a ler palavra por palavra, letra por letra, me deixava claro que ela tinha me deixado.
Que agora eu já não estava sozinho, eu estava abandonado. É muito pior estar abandonado.

Sentei no vaso e fiquei estático, paralisado, derramando lágrimas e olhando pro azulejo azul claro todo rabiscado e bem na minha frente eu lia com clareza alguns daqueles golpes verbais.
"... e do seu lado eu não consigo mais sorrir, eu te odeio..."
" Você nunca me fez bem."

Liguei o chuveiro e fiquei sentando, pelado, misturando a água quente com minhas lágrimas frias até a fonte secar.

3 comentários:

  1. Pois é, escrever é respirar e relacionamentos tem sempre reticências, mesmo elas sendo colocadas no início, meio ou fim de uma história, isso faz parte de dias entre a realidade, a memória e o imaginário.


    Fique em paz e viva.
    Amanda.

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    1. é os relacionamentos são tudo ao mesmo tempo né... mas a vida ensina.

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  2. Sim, a vida ensina e nós tentamos aprender.

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