Onde é que
eu me encaixo?
Eu não sou
como os outros amigos que se animam de ir na passeata. Que tem um impeto de
estar lá compondo aquele enorme coro. Isso não está em mim, e não é uma questão de ser
contra, ou de analfabetismo politico, não, é uma questão real e particular,
ISSO NÃO ESTÁ EM MIM.
Eu podia ir até lá e mostrar minha opinião pedindo a paz e a justiça
na rua da consolação. Mas seria mentira comigo mesmo, eu viraria uma fraude.
Usando um
termo conhecido, eu seria “massa de manobra”. Estaria lá só pra me representar
enquanto cidadão paulistano.
Mas eu de
fato não sinto esse desejo de estar lá.
Aí eu me
pergunto se é uma questão de desejo ou de necessidade, e a realidade é que a
resposta eu não sei… Não sei mesmo.
Eu não
teria que me sentir motivado a estar lá no meio, pra estar lá no meio?
Ou eu tenho
que parar de olhar pra mim e olhar pra cidade e dar voz a tudo isso?
Onde entra
a minha individualidade nisso? Eu não sei a resposta.
Eu não
consigo pensar.
Sou contra
essa polícia militar nojenta, que está enraizada nos tempos da ditadura, sou
contra as bombas, contra os tiros.
Sobre isso
não me resta dúvida.
Sou também
contra o aumento da passagem, mas isso aqui não está mais em jogo está? É por
isso que se grita, pelos 20? não. Tenho certeza que não.
Acho que a
juventude agora entendeu o seu papel, saiu do plano virtual, das redes sociais
e foi… não foi a luta, foi a paz… saindo de suas casas e ocupando as ruas.
Disso eu sou a favor.
Mas continuo em casa. Por que?
?
Mas veja
só, apesar de ser contra e ter vergonha da polícia militar, eu preferi escrever
esse texto, eu preferi atirar palavras contra o papel e mesmo insone organizar
o que eu sinto agora, porque isso eu nunca senti, esse incômodo por não saber
onde me encaixar.
Eu sou
artista, isso eu já sou, não dá pra não ser… aí fica uma cobrança de que sendo
um artista eu devia estar na rua pedindo essa justiça, mas sendo artista também
eu não posso encontrar uma maneira artística de me expressar e dar voz a minha
experiência, com algo que de fato me represente?
Entendo que esse ato de ocupação das avenidas e ruas da cidade diz muito do teatro, é um grande ato, e fazer parte dele fisicamente me daria outra dimensão da coisa. Mas a questão tem que passar por mim, pela minha experiência.
Porque a
minha experiência não está ligada a isso. Não está ligada a protestos, a
revoltas, a movimentos políticos, a greves, não, a minha não.
A minha
experiência está ligada a família, a risadas com amigos, torcer pelo São Paulo,
conversas sobre o dia, idas ao cinema... Está ligada a um homem e uma mulher que
nada se interessavam por isso e começaram a namorar, enquanto no país a
ditadura estava pegando…
O namoro
corria normalmente, e a ditadura também… Mas ao que sei, em mundo paralelos.
O namoro
evoluiu, a ditadura também.
Desse
casamento, eu vim. e da ditadura, veio 13 de junho de 2013.
O teatro é a minha rua.
e é de lá que eu falo, que eu brigo, que eu apoio.