sexta-feira, 14 de junho de 2013

encaixe


Onde é que eu me encaixo?

Eu não sou como os outros amigos que se animam de ir na passeata. Que tem um impeto de estar lá compondo aquele enorme coro. Isso não está em mim, e não é uma questão de ser contra, ou de analfabetismo politico, não, é uma questão real e particular, ISSO NÃO ESTÁ EM MIM. 
Eu podia ir até lá e mostrar minha opinião pedindo a paz e a justiça na rua da consolação. Mas seria mentira comigo mesmo, eu viraria uma fraude. 

Usando um termo conhecido, eu seria “massa de manobra”. Estaria lá só pra me representar enquanto cidadão paulistano.
Mas eu de fato não sinto esse desejo de estar lá.

Aí eu me pergunto se é uma questão de desejo ou de necessidade, e a realidade é que a resposta eu não sei… Não sei mesmo. 

Eu não teria que me sentir motivado a estar lá no meio, pra estar lá no meio?

Ou eu tenho que parar de olhar pra mim e olhar pra cidade e dar voz a tudo isso?
Onde entra a minha individualidade nisso? Eu não sei a resposta.
Eu não consigo pensar.

Sou contra essa polícia militar nojenta, que está enraizada nos tempos da ditadura, sou contra as bombas, contra os tiros.
Sobre isso não me resta dúvida.
Sou também contra o aumento da passagem, mas isso aqui não está mais em jogo está? É por isso que se grita, pelos 20? não. Tenho certeza que não.

Acho que a juventude agora entendeu o seu papel, saiu do plano virtual, das redes sociais e foi… não foi a luta, foi a paz… saindo de suas casas e ocupando as ruas. Disso eu sou a favor.

Mas continuo em casa. Por que?

?

Mas veja só, apesar de ser contra e ter vergonha da polícia militar, eu preferi escrever esse texto, eu preferi atirar palavras contra o papel e mesmo insone organizar o que eu sinto agora, porque isso eu nunca senti, esse incômodo por não saber onde me encaixar.

Eu sou artista, isso eu já sou, não dá pra não ser… aí fica uma cobrança de que sendo um artista eu devia estar na rua pedindo essa justiça, mas sendo artista também eu não posso encontrar uma maneira artística de me expressar e dar voz a minha experiência, com algo que de fato me represente?
Entendo que esse ato de ocupação das avenidas e ruas da cidade diz muito do teatro, é um grande ato, e fazer parte dele fisicamente me daria outra dimensão da coisa. Mas a questão tem que passar por mim, pela minha experiência.

Porque a minha experiência não está ligada a isso. Não está ligada a protestos, a revoltas, a movimentos políticos, a greves, não, a minha não.

A minha experiência está ligada a família, a risadas com amigos, torcer pelo São Paulo, conversas sobre o dia, idas ao cinema... Está ligada a um homem e uma mulher que nada se interessavam por isso e começaram a namorar, enquanto no país a ditadura estava pegando… 

O namoro corria normalmente, e a ditadura também… Mas ao que sei, em mundo paralelos.
O namoro evoluiu, a ditadura também.
Desse casamento, eu vim. e da ditadura, veio 13 de junho de 2013.

O teatro é a minha rua. 
e é de lá que eu falo, que eu brigo, que eu apoio.

3 comentários:

  1. Olá,
    acho incrível seu blog,seus escritos transbordam uma sensibilidade e autenticidade natural que encantam. Quando leio (faz um tempo que acompanho seu trabalho), parece que coloco uma lente de aumento sobre a vida, e passo a perceber todos os detalhes escondidos nas mais diversas situações, das quais você escreve e, que eu me identifico ou já vivi. Enfim, admiro sua arte tão bela e genuína, parabéns! =]

    ResponderExcluir
  2. Realmente, é admirável o teu jeito de escrever, digo, os teus maravilhosos textos. Admiro também o teu trabalho como artista e confesso que depois de ler seus escritos até me deu vontade de me tornar sua amiga, hahaha. Enfim, parabéns pelo blog e pela engraçada propaganda da Qualy!haha

    ResponderExcluir
  3. muito obrigado1 fico muito feliz com as palavras de vocês!
    um beijo grande.
    Victor.

    ResponderExcluir