E quando tudo parecia normal ele decidiu olhar pra trás. Se deparou com
um passado imenso.
Se deparou com uma gravatinha de cartolina confeccionada por ele aos 7
anos de idade, como presente de Dia dos Pais, com os dizeres: “Apesar de tudo,
Eu te amo. Elias”
Se deparou com o antigo ferro de passar e com as chicotadas recebidas
com o fio e a tomada de 3 pontas.
Se deparou com o estojo de maquiagem de sua mãe e com todas as vezes que
cruzou o olhar com ela através do espelho enquanto ela escondia os vergões no canto
da face e no braço esquerdo, o favorito dele.
Se deparou com os silêncios durante os jantares em família e as caras de
nojo que vez ou outra ele fazia pra comida preparada por ela.
Se deparou também com o antigo chinelo “Rider” e marcas nas costas
e atrás do pescoço deixadas por ele
toda vez que que brigava na escola e apanhava dos outros. Era a surra sobre a
surra, a pancada sobre a pancada. Se lembrou de que apanhar duas vezes era pior
que uma só.
Então, se lembrou de quando aprendeu a bater, de quando aprendeu a usar
sua força sem motivos. Só pra não levar duas vezes.
De quando passou a ser temido na escola por todos os garotos e que as
garotas também começaram a se afastar.
Começou a se confundir com isso tudo, pois não queria seguir os passos
do velho, apesar de ter pegado gosto pelo cigarro e pela cachaça.
Lembrou dos ruídos vindos do quarto ao lado.
De como gostava de perceber os corpos femininos e de como as formas o
excitavam, as curvas nos corpos e o volume dos seios foram o estimulo para
muitas masturbações e desejos na hora de dormir.
Lembrou dos beijos e carícias trocadas com Elisa e da promessa do
encontro na cidade grande.
Lembrou de planos que fez para fugir dali com seu grande amigo Levi, na sombra
de um pé de limão e na mesma hora uma lágrima correu pelo seu rosto, caindo no
chão de terra batida e escorrendo para o Centro da Terra.
Nessa hora sentiu seu calcanhar ser invadido por uma luz quente e no momento
em que essa luz, atravessando seu corpo, tocou seu coração ele caiu sobre a
terra de joelhos, chorando muito.
Levou suas mãos ao peito e se deu conta de que tinha pouco tempo de vida,
pois estava no dia de seus anos.
Estava fazendo cinquenta.
Muito bonito o texto acima.
ResponderExcluirQuem é o autor( autora)?
José Elias
oi... o texto é meu mesmo José Elias.
Excluirobrigado.
abç.